Não fazem mais praças
O planeta não para. Gira dia e noite, no seu movimento em volta do sol, ao longo de todo um ano em que as coisas acontecem, de uma forma ou de outra.
Como não existem duas verdades iguais, o mesmo fato ou o mesmo ato são vistos de formas diferentes, para não falar opostas. Um jura que foi assim, outro jura que foi assado, e os dois colocam a mão no fogo pela verdade de cada um.
Tanto faz, o fato concreto, inexorável, inescapável é que faz tempo que ninguém conta de alguém limpando um terreno baldio para fazer uma praça. Ninguém conta de alguém tirando mato e plantando árvores para transformar o terreno numa praça de bairro, pequena, mas gostosa.
A desculpa mais fácil é dizer que não tem mais tantos terrenos baldios. Mas isso não é verdade. O que não falta em São Paulo, especialmente na direção das periferias, são amplos espaços vazios, que não ficam muito tempo assim depois que os movimentos sociais que invadem imóveis descobriram que eles existem.
A invasão tem razão clara. Com o terreno invadido fica fácil negociar com a Prefeitura, que não perde chance de ficar bem nas fotos para tentar a reeleição no ano que vem.
Pode não ter dinheiro para mais nada, nem para passar pornochanchadas à meia noite, nos cemitérios da cidade, mas para pagar invasão de terra e desapropriar terrenos é como pintar faixas de urucum boliviano: sempre tem uma reserva no pé da meia, debaixo da escada, num vão entre as tábuas.
É assim porque é assim. O resultado é que os terrenos não ficam vazios por muito tempo. Como será desapropriado, ninguém se anima a construir uma praça. No final, perdem todos, menos o chefe da invasão.