Banho de cachoeira
Tem gente que gosta, tem gente que não gosta. É assim com praticamente tudo. Por que não seria com banho de cachoeira?
Entrar debaixo da queda d’água, sentir a força dela batendo na cabeça e nas costas pode ou não ser um prazer. Depende de quem está debaixo, de quem está se molhando, se gosta de água fria, se não gosta de água fria, se gosta da massagem feita pela água, enfim, depende dos mais variados motivos.
Eu gosto de banho de cacheira desde que era menino e entrava debaixo da cachoeira da praia de Iporanga, no Guarujá. É a lembrança mais antiga que eu tenho de uma longa série de banhos de cachoeira tomados ao longo da vida, sozinho, acompanhado, no verão e no inverno.
Na minha casa eu tenho uma calha que capta a água da chuva do telhado, que cai feito uma cachoeira por um cano que forma uma bica com um jorro forte, dependendo da força da chuva.
Cada um sabe de si. Eu gosto de banho de cachoeira e, como não posso viajar atrás de uma cachoeira todas as vezes que estou com vontade, tenho minha cachoeira particular, que atualmente anda meio desmerecida por conta da seca que assola São Paulo.
Mas bom mesmo, bom de arrepiar a pele, é cachoeira de verdade. A água caindo das pedras em cima de você. A pancada e a água fria escorrendo pelo corpo criam uma sensação única, um arrepio difuso, que só quem já entrou numa cachoeira sabe como é.
Cachoeira não é cartão de crédito, mas não tem preço. Cada vez que eu entro numa, ganho dez anos de vida. Saio dez anos mais moço. Aproveito o momento com dez vezes mais intensidade. Por isso, quando o mundo pega pesado, é hora de descer da vida, entrar no rio, encontrar a cachoeira, entrar embaixo dela e deixar a água lavar a alma.