A primavera, as primaveras e as outras flores
Não há dúvida, a primavera está aí, com a força de suas cores enfeitando a cidade.
A marca registrada da primavera deveriam ser as primaveras. Mas em São Paulo não são tantas assim e, nas cidades onde proliferam, costumam florir o ano inteiro.
Então, não são um marco firme para garantir a certeza.
Os ipês poderiam ocupar o espaço, mas florescem no inverno também. Então são pouco confiáveis.
Uma solução seria adotar as pitangas. As pitangas amadurecem na primavera, mas elas são frutas e o que eu quero é uma flor.
A cidade está florida. Amarelo, vermelho, laranja, azul, branco, as cores se espalham pelas ruas e jardins com a sem cerimônia de quem sabe que chegou sua hora e sua vez.
Árvores, arbustos, flores em talos frágeis, um pouco de tudo cria a festa para os olhos numa série de conjuntos mais ou menos espontâneos.
E as primaveras, ainda que não muitas, ou por isso mesmo, se destacam nos muros onde costumam ser plantadas.
Suas flores intensamente coloridas não deixam barato. Entram de sola na paisagem, como lutador de MMA entra na cara do outro.
No seu pedaço, a festa é delas. As outras flores perdem a intensidade, ainda que não percam a beleza e algumas exceções se imponham, como os ipês amarelos.
As primaveras são únicas, mas não são as donas da estação. Se fossem legião, a história seria outra. Mas não passam de pelotão. Então, nem com boa vontade dá para tomar uma cidade do tamanho de São Paulo.
O jeito é ser humilde e dividir. Chamar as outras flores e explicar que cada uma é cada uma e todas têm direito a se mostrar.