Teus olhos
Teus olhos espelham o mar. O azul profundo da imensidão dos oceanos, o verde das águas rasas, as praias, os penedos, a espuma e a gota que a onda esquece e lentamente desce de volta pela pedra.
Teu corpo é parte da terra. As distâncias dos continentes, com sol e chuva e vento e neve e tempestades de inverno dando lugar às tempestades de verão.
Teu cheiro é o perfume da natureza. A clorofila da mata, o acre da caatinga, o sal, o suor, a chuva e o espanto da noite escura.
Tua alma é a parte tangível do cosmos. Por isso, é parte da imensidão da eternidade de Deus e renasce a cada dia e a cada noite, nas madrugadas, nos pores do sol, nas noites sem lua e nas noites de lua cheia, quando um violão faz o som da vida humana integrar o divino.
Você. O que dizer além do que já disse? Como explicar o inefável? O ininteligível? O sagrado?
Como traduzir para palavras o que apenas se sente, numa conversa de vibrações que une a água e a terra?
Tanto mar e tanta mata. Tanto azul e tanto verde. Tanto céu e tanta vida escorrendo entre o limo das pedras, a areia das praias, pelas campinas e pelos vales separando os montes.
Tanta vida. Tanta que até assusta. Você é. Completamente. É e basta. Não cabe apelação, nem possibilidade de reforma.
Quem quiser que te aceite. Quem não quiser que se dane. O mundo é você. A essência do mundo está em você. A beleza se perpetua na terra e na água, que te compõem e te formam.
Teu limite é a ausência de limites, para além das cercas, para além do horizonte, onde os sonhos vivem a única realidade.