O paliteiro em movimento
São Paulo está cada vez mais parecendo um enorme paliteiro. Tanto faz o lado, tanto faz a direção, tanto faz o ponto cardeal, a cidade sobe em prédios mais ou menos altos, num ritmo alucinante, como se o mundo fosse acabar amanhã, ou logo em seguida, caso ele não acabasse, não houvesse mais espaço para ninguém morar aqui.
Quem se lembra da Barra Funda poucos anos atrás sabe o que estou dizendo. Mal e mal tinha dois prédios velhos deste lado e outros dois do outro. Hoje, a cada dia que passa, o horizonte encolhe, tapado por edifícios de todos os tipos, brotando do solo na velocidade da água dos geisers do Deserto de Atacama.
Mas não é só a Barra Funda que muda de cara. A Lapa é outro bairro e o Alto da Lapa um terceiro. Para não falar na região em volta do Ceasa e do Parque Vila Lobos, tomada de assalto pela explosão imobiliária que cerca o verde com concretos das mais variadas cores.
Há uma melhora indiscutível no padrão das moradias. Há também uma nova beleza na arquitetura que se impõe, com as mais variadas tendências se confundindo e se complementando, para fechar o desenho que desde sempre é a marca registrada de São Paulo.
Não há nada que indique que a correria vá ter fim. Pelo contrário, o ritmo das construções aponta para a verticalização acelerada, cada vez mais densa, cada vez mais opressiva, até em bairros onde as ruas não comportarão o trânsito que os novos edifícios trarão.
Quem quiser chorar, que chore. Não adianta nada. O progresso é parte da vida paulistana e o desrespeito pela vontade humana pauta os rumos da metrópole de hoje, desde o tempo em que era uma pequena vila, que ficava vazia a maior parte do ano.