Um cidadão comum
Poderia se chamar José da Silva, mas, como a crônica é minha, irá se chamar Pedro Malaquias, vulgo PEN, nas quebradas por onde anda. PEN é cidadão brasileiro.
Com carteira de identidade, CPF, certificado de reservista e título de eleitor, o único documento no mundo que não serve para o que foi feito. Nada de estranho, aqui é um país chamado Brasil. As coisas acontecem em outro ritmo.
PEN tem emprego com carteira de trabalho assinada, o que muita gente também tem, mas ainda não é a regra, em todos os níveis da atividade profissional.
Ele acorda cedo, toma café da manhã com a mãe, sai de casa antes das seis horas, pega um ônibus que o deixa perto do metrô e aí segue por debaixo da terra até a estação perto de seu emprego.
Dizem os mais velhos que o metrô já foi mais confortável. Pode ser, PEN não duvida, mas, nos dias de hoje, dependendo da hora e da linha, os carros ficam mais apertados do que lata de sardinha. E no verão, dentro do trem, fica quente como a sétima escala do inferno.
PEN gosta de futebol, mas não é fanático, mesmo sendo corintiano. Gosta, numas. Vê jogo pela televisão porque ir aos estádios pode ser muito perigoso. Nem ele nem sua namorada gostam de correr riscos.
Nos sábados de tarde, o programa é passear em shopping. Depois, pegar um cinema lá mesmo e, na saída, combinar com os amigos um boteco para beber um chope gelado. Domingo, tem que ter pizza. Nos outros dias, tanto faz, comida é comida, ainda mais depois de chegar em casa exausto do trabalho e amassado do metrô.
PEN é feliz. Vai se casar. Comprou carro em 60 meses e agora quer um apê em 30 anos. Se Deus quiser, via dar.