Depois
Depois. Mas se depois de cada depois tem outro depois! E depois deste, outro, e outro, e outro, indefinidamente, infinitamente, um ligado ao outro, como uma enorme corrente de fatalidades e milagres, entrelaçados pela passagem do tempo, que, de verdade, não passa.
Que é este depois, senão a consequência de outro depois que aconteceu antes, como consequência de outro momento anterior a ele?
Não, não há depois, exceto como certeza ou como desculpa.
Antes é muito cedo, depois é muito tarde. A hora é a hora. Adiar o inadiável é imaginar que a vida permite ser deixada de lado. Como uma bola velha, uma fruta estragada, uma desculpa esfarrapada.
Depois é a postergação de algo impostergável, de um momento que não aceita atraso porque ele tem sua função na dança dos astros e na sequência lógica que faz o universo girar.
Não há como retirar as peças do tabuleiro. Cada uma tem seu lugar. Tentar retirá-las é comprometer o todo, alterar o equilíbrio, modificar a construção.
Nada é adiável. A vida acontece em cada momento, em cada batida do pêndulo, em cada gesto ou na sua ausência. Adiar o gesto é criar outro desenho, obrigar uma nova realidade.
Os resultados são outros, não porque alguém adiou alguma coisa, mas porque o que deveria acontecer não aconteceu. Não há vácuo. Os elos se refazem, se redimensionam, se reúnem, forçados por uma nova pressão que os obriga a redesenhar o instante para fechar o círculo e seguir em frente.
Cada momento tem seu peso e sua inércia. Não adianta esperar o depois. Depois é sempre muito tarde.