Noite ao meio dia
Tem certos dias em que o céu fica tão escuro que, ainda que sendo começo de tarde, parece noite fechada. É como se o fim do mundo se aproximasse e as trevas do inferno tomassem a terra de assalto, contrariando os desígnios de Deus e ordem natural das coisas.
Mas não é. É apenas uma tempestade chegando, mostrando a cara e a enorme capacidade de destruição embutida nas nuvens escuras, que escurecem o céu para assustar os adultos, da mesma forma que eles assustam as crianças contando estórias de fantasmas.
Às vezes o céu cai nas nossas cabeças e a ideia de fim de mundo fica muito mais concreta, na força do vento zunindo pela cidade, enquanto as águas da chuva despencam em pingos grossos, que caem enviesados, doendo quando batem na pele.
A escuridão no meio do dia assusta. Mas mais do que ela as possibilidades da catástrofe assustam muito mais.
Saber que tal parte da cidade pode ficar inundada é apavorante e saber que não há muito a ser feito é mais apavorante ainda.
E o duro é que não há nada a ser feito, exceto rezar e pedir para Deus desviar o grosso da tempestade para algum lugar aonde os danos não machuquem as pessoas, nem quebrem, nem destruam, mas apenas limpem a natureza, trazendo vida nova na essência da própria tempestade.
É verdade, nem sempre a tempestade despenca com a violência que a cor do céu nos leva a imaginar. Forças cósmicas desviam sua força ou ela se desfaz. Aí é o paraíso, na sensação de alívio ao ver o céu de novo clarear, sem que tenha desabado sobre as nossas cabeças.
Mas quando o tempestade entra, mesmo com toda possibilidade de destruição, não há como dizer que o espetáculo não é lindo.