Calouros nas esquinas
Todo começo de ano é a mesma coisa, lá estão eles em bandos nas esquinas da cidade. Uns mais pintados, outros menos; uns curtindo mais, outros menos; tanto faz, lá estão eles por alguns dias, fazendo concorrência desleal aos malabaristas das bolinhas, pedindo dinheiro aos motoristas parados nos sinais vermelhos.
Centenas, quem sabe milhares, ou como diria um velho caipira que eu conheci muito tempo atrás, até mesmo dezenas, de calouros das diversas faculdades de São Paulo entopem as esquinas, gritando e achando graça, ao contrário do que acontece normalmente com quem trabalha nelas, por dentro e por fora.
Ficar parado numa esquina paulistana pode ser divertido, ou pode ser infernal. Depende só do lado que você está. Se for como universitário, brincando porque entrou numa faculdade, tudo bem, tudo não passa de uma enorme brincadeira.
Se for como criança alugada, ou qualquer outro tipo de gente que está lá, antes de tudo, por que precisa, aí a coisa muda. Deixa de ter graça para se transformar numa das antessalas do inferno.
Do outro lado, estamos nós, que passamos pelo pedaço, normalmente apavorados, dentro de nossos carros de vidros fechados e insufilme nas janelas.
É ao ver os calouros que vem a certeza de que o tempo passa para todo mundo. Ontem nossos filhos estavam acabando o colégio e entrando na faculdade. Hoje, já estão formados e trabalhando há mais de ano.
Quer dizer, lá se vão cinco anos desde que foram calouros, ou seja, cinco anos a mais nas costas de cada um de nós, que, ainda assim, temos que dar graças a Deus, porque a alternativa é muito pior.