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A Rua Do Arouche

A Rua do Arouche é uma sobrevivente no sentido exato da palavra. Desde a década de 1970 que eu acompanho sua trajetória de sucesso, ainda que cercada e cruzada por ruas pouco recomendáveis, sujas e mal frequentadas.

No meio da decadência que se iniciava, a Rua do Arouche tocava em frente, com seu comércio rico, de lojas bem montadas, com vitrines bonitas.

Houve época em que ela esteve no centro da efervescência paulistana. Ditava moda. Impunha padrões, e dividia as glórias do sucesso com ruas como a Barão de Itapetininga.

Mas São Paulo se move pelo planalto e o centro pagou o preço de ficar para trás. Entrou em decadência. Relativamente lenta, mas inexorável.

Neste cenário triste, a Rua do Arouche se sobressaia, mantendo a pose, com suas vitrines amplas e lojas bem montadas resistindo heroicamente.

Fazia tempo que não passava por ela com calma. Fiz isso outro dia.
Não é mais a passarela fina que ditava a moda da cidade. Também não tem mais as lojas ricas que faziam a diferença e lhe emprestavam um ar de Europa.

Mas continua viva, com todos os imóveis ocupados por um comércio mais simples, mas dinâmico, capaz de atrair gente e mantê-la acesa, ainda que menos limpa, enquanto em volta, suas travessas morrem sufocadas pela sujeira e pelo abandono.

A Rua do Arouche é uma vencedora. Um retrato da fibra que faz São Paulo uma cidade única e vibrante, não importa a região.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.