Passarada
Quem acha que a vida urbana só é boa para os seres humanos precisa ver a quantidade aves que habitam São Paulo. A cidade foi tomada por pássaros de todos os tipos, cores e tamanhos. Não são mais os tico-ticos e pardais de antigamente. Nem as andorinhas e sabiás que também viviam por aqui.
Não. Agora a cidade é lar de gaviões, urubus, papagaios, periquitos, sabias, bem-te-vis, almas de gato, rolinhas, pombas selvagens ou não, e, outro dia, pasme, vi até um casal de jacus empoleirados numa sibipuruna perto da minha casa.
Faz tempo que acompanho o fenômeno e fico deslumbrado. Quem sabe, o melhor lugar para ver a diversidade de aves que se mudaram para cá seja a Cidade Universitária. Lá é a festa da passarada. E o mais fascinante não são os urubus em voo alto, nem os quero-queros gritando na grama.
Inacreditável é ver gavião pinhé bicando os sacos de lixo para pegar um almoço muito mais fácil e mais farto que caçar no mato.
A razão desta migração continuada é justamente a facilidade da vida urbana. Se a cidade oferece mais que o campo em termos de conforto para o homem moderno, oferece muito mais para as aves em geral.
Por isso ave antenada já se mudou faz tempo. Na cidade é fácil achar lugar protegido para fazer ninho. É fácil encontrar comida. E a corrida pela defesa da vida é menos cruel que na natureza.
É só prestar atenção na sem-cerimônia que as aves pousam perto das pessoas para saber que o medo deixou de ser mola para a evolução das espécies. Na cidade a passarada divide espaços, se socializa, aceita os outros. Aqui a vida corre mansa, no ritmo calmo das barrigas cheias