Diversidade
Tem gente que guarda o brilho das estrelas dentro de garrafas. Feito os construtores de miniaturas de navios, elas navegam pelo céu, encontram o brilho dos astros, os cercam, os prendem e depois os colocam dentro de garrafas, formando imagens que a imaginação concebe e a criatividade aumenta, em nome da beleza e dos sonhos.
Quem sou eu para duvidar que o brilho dentro da garrafa foi pego na quarta estrela do lado esquerdo da nebulosa de Magalhães? Quem sou eu para dizer que o contraponto deste brilho não veio da Ursa Maior?
Há mais mistério neste mundo do que concebe nossa vã fantasia.
Quem disse que tudo se resume a três dimensões. Existem outras, e outras, que transcendem a quinta e reinventam a sexta, numa sequência cósmica que mistura a poeira das estrelas com o gelo dos cometas.
Para nós, humanos, resta acreditar que tudo é verdade e que a pedra na porta de casa tem dentro de si todo o universo, e suas constelações, refeitas em miniatura, e que o brilho delas só não escapa porque a garrafa onde estão aprisionadas foi bem arrolhada.
Se tem gente que reencarna em flor, e outros que foram abduzidos, quem sou eu para dizer que não há quem possa prender o brilho das estrelas em velhas garrafas?
Quem sou eu para dizer que a luz dos vaga-lumes não tem um pouco do pó que escorreu antes da garrafa ser fechada?
Tudo é mistério. Cada encontro, uma fatalidade. Cada despedida, um recomeço. Cada mão estendida a fusão de antiga matéria perpetuada na imagem dos dinossauros navegando pelo universo.
Tem gente que prende a luz das estrelas dentro de garrafas. Tem gente que divide essa luz e faz o mundo se sentir melhor.