Salada russa
Imagine Stan Getz tomando chá com Monteiro Lobato, enquanto do outro lado do terraço, Hans Staden bate um longo papo com Alvarenga, o herói esquecido que por uma fatalidade acabou mais importante que seus companheiros de heroísmo, Martins, Miragaia Dráuzio e Camargo.
Os quatro também estão no pedaço, mas nenhum tem a fama de Alvarenga, o herói de 23 de maio que ao morrer alguns dias depois dos outros, acabou de fora da sigla MMDC, símbolo do movimento paulista que desaguou na Revolução de 1932.
Coisas do Butantã, onde tudo é possível, desde os travestis, até os pernilongos, passando por assaltos dentro e fora de casa.
A mistura dos homenageados que dão seus nomes às ruas do bairro não tem paralelo em qualquer outra cidade civilizada.
Espera-se que cada pedaço, no plano urbano guarde referenciais que os tornem fácil de serem localizados. Por exemplo, as ruas do Jardim América têm os nomes dos países do continente, a mesma regra vale para o Jardim Europa, mas não está presente no Pacaembu, apesar de voltar a valer em Cidade Jardim.
São Paulo é caótica. Mas misturar um jazzista um escritor infantil, um herói esquecido e um marinheiro alemão que naufragou no Brasil no século 16 é muita competência.
Mágicas das ruas do Butantã, aonde as aves cantam como Gonçalves Dias nunca imaginou que seria possível e cães de todas as raças dividem os espaços de forma mais ou menos amistosa.
A catarse se dá na Casa Do Bandeirante, onde o escritor toca jazz, e o músico bebe caipirinha, escutando o marinheiro contar da Revolução
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.