Polarização alucinada
No meio da mais grave crise de saúde dos últimos oitenta anos, o Brasil ainda encontra tempo para levar a polarização da sociedade a graus inimagináveis e apavorantes.
O coronavírus come solto e se espalha pelo interior com a sem cerimônia de quem tem a proteção presidencial.
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Afinal, amigo de presidente tem que aproveitar a chance na hora certa. O vírus sabe: Deus não coloca cavalo arreado na nossa frente duas vezes. Se o peão não montar na sua vez, nunca mais terá a chance e ficará sentado na beira do caminho, se culpando pela oportunidade perdida.
Interior a dentro, sem largar as capitais e cidades grandes, o coronavírus agradece a boa vontade dos brasileiros e convida todo mundo a continuar nas ruas. Afinal, o que são mais de mil mortos por dia se o pancadão corre solto, a cerveja está gelada e, pro papo ficar perfeito, só falta jogo de futebol?
Mas nem isso está fazendo muita falta. Os amigos do presidente têm assunto de sobra para provar que o presidente é o máximo e os que não gostam do presidente têm assunto de sobra para mostrar que o presidente é um desastre.
Como toda moeda tem dois lados, os a favor e os contra usam os mesmos argumentos, só que ao contrário. O resultado tem sido péssimo pra todos, mas melhor para o presidente. Então, o grande líder não faz nada para baixar a fervura, nem para os brasileiros ficarem em casa.
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Toma vírus, toma hospital lotado, toma gente sem UTI para poder respirar. Tanto faz todos os tantos fazes, é assim que nós fazemos ordem unida e marchamos rumo a recordes inacreditáveis, como se legal fosse ter gente morrendo e uma enorme discussão sem sentido.
O duro é que não tem nenhum sinal de que a fervura pode baixar.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.