A cor dos carros
Pouca coisa é mais monótona nos dias de hoje do que a cor dos carros que circulam pelas ruas brasileiras. Cinzas ou pretos. Com raras variações. Alguns vermelhos, bordos ou azuis, mas poucos, muito poucos.
A falta de cor deixa mais triste o nó dos engarrafamentos. É como se faltasse vida às ruas. Como se o sonho perdesse a intensidade e a natureza ficasse mais pobre, tendo apenas as floradas de época para alegrar a monotonia dos dias.
Quando os carros brasileiros eram comparáveis às carroças, eram mais coloridos. Resistiam a tudo e a ainda por cima enfeitavam as ruas, com cores fortes contrastando com o cinza que já tomava os muros e prometia mais feia a possibilidade do progresso.
As cores variavam de um extremo a outro, não só entre elas, mas também nos tons. Havia vários tons de azul, de verde, de vermelho, de bege, e até de cor de rosa para acabar num escandaloso amarelo ovo.
Meu primeiro carro foi um Opala 71 verde amazonas. Meu amigo Zé Cássio tinha outro verde desbotado, e ainda havia, na mesma época, um verde-garrafa que era o mais bonito de todos.
Algumas marcas, para diferenciar os modelos esporte, se valiam de amarelos ou laranjas mais ou menos fortes, enquanto outras, mais luxuosas, sacavam de vários tons de azuis, bordos intensos e verdes discretos para caracterizar seu produto.
Mas já antes disso, o velho e bom fusca variava de cores com a tranquilidade que se troca uma camisa. Dependendo do ano de fabricação predominava o bege, o azul, o bordo, o vermelho, o amarelo, o verde azeitona e por aí a fora.
Com certeza, nossas ruas já foram mais bonitas. E mais alegres.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.