Outro lado do tempo
O tempo é algo relativo e que nos deixa sempre descontentes. Quando somos jovens, as coisas passam muito devagar, depois, à medida que envelhecemos, aceleram, ficam mais rápidas, até atingir um ritmo de cruzeiro no qual o hoje de repente é ontem e o amanhã está para chegar.
Sem aviso, o passado recente se torna distante. Fica longe, se perde na névoa das lembranças, é esquecido.
O mais dramático é ser esquecido. E quanto de nossas vidas simplesmente desaparece, sem deixar vestígio, sem marca na memória.
Era tão importante no momento que foi…
Agora não existe, apagado das lembranças como se o momento não houvesse acontecido, ou não tivesse nenhuma importância.
Quando moços, o grande negócio é chegar aos 18 anos. Ser dono da própria vida e depois não saber o que fazer com ela.
Deixá-la passar, sem sentido no mais das vezes, como um rio que corre para o mar, levando em suas águas a recordação das enchentes que não deixaram marcas, que foram engolidas pelo sol e apagadas pela vegetação renascida.
Tanto queremos que chegamos lá. Crescemos. A juventude cede espaço para o adulto. O menino vira homem e o homem não sabe o que fazer com uma vida inteira, ainda aberta à sua frente.
Mas a vida não pede licença e passa. Vai em frente, cada dia mais rápida, mais impiedosa e mais terrível, na sua forma de deixar para trás muita lembrança que não deveria ser esquecida.
E o fim se aproxima, como se tudo não tivesse sido mais que um único dia, pedido na eternidade, como um simples clarão, um brilho de faísca e mais nada. O resto é esquecimento.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.