O outro lado do rei
D. João VI é quase sempre visto como um rei bufão, ou uma figura menor, que pelo jeito e pelo biotipo serve na medida para ser ridicularizado.
Mas será que o rei português de verdade era isso? Como sempre toda moedas têm dois lados. D. João VI não é a exceção da regra.
E o outro lado, o lado do rei competente, com um pouco de atenção se impõe, transformando a figura patética que comia frango assado o dia inteiro num soberano raramente sagaz, quem sabe o maior sobrevivente entre todos os monarcas europeus do século 19.
Entre todos os reis da Europa continental ele é o único que nunca assinou a paz com Napoleão. Ele é o único que nunca foi derrotado pelo imperador francês.
Numa ação inesperada, D. João transfere sua corte para o Brasil. Ergue a colônia a reino unido e continua livre do jugo da França, ainda que com a parte europeia de seu império ocupada pelos franceses.
Aqui, muda a cara do Rio de Janeiro. Transforma a cidade mirrada e cheia de doenças, com Jardim Botânico, praças e avenidas. Cria banco e seguradora, abre os portos. Replanta a maior floresta urbana do mundo, Abre escolas. Recupera o tempo perdido.
O mais poético é pouco lembrado: manda povoar o litoral brasileiro com sardinhas para alimentar com dignidade os pobres e os escravos.
E o mais importante é que volta para Portugal rei, deixando aqui um império para o filho a quem desde moço prepara para governar a nova nação livre dos laços coloniais.
Este homem não tem nada de patético, ainda que filho de D. Maria e casado com Carlota Joaquina. Quem sabe por isso comesse tanto frango.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.