O que importa é o reverso do verso
Que me importa se é verdade que uma lua de Júpiter pirou e começou a dar cambalhotas, mudando o eixo em mais de 80 graus?
Ou que cientistas enxeridos descobriram que em 1860 uma Supernova explodiu dentro da Via Láctea?
Que me importa o movimento dos astros, exceto pela influência da lua sobre o teu humor.
O Rio Amazonas corre dos Andes para o mar. O Tietê corre da serra do Mar para o Rio Paraná, seguindo percurso inverso ao do maior rio do mundo por questões conceituais e metafísicas que a topografia e a geologia do estado de São Paulo justificam, mas não explicam.
O Tietê corre ao contrário porque é um rio com personalidade. Ou como queria um bandeirante seiscentista, para servir de estrada para os que vierem depois.
Mas que importa isso?
E o que importa se as ondas ainda baterão nas pedras do litoral, séculos a fora antes de esculpi-las com figuras concretistas.
Nada importa exceto o reverso do verso onde você é a imagem, o ícone, a divindade.
No mais teu corpo é a escultura perfeita e teu sorriso a joia mais cara que enfeita as feições da deusa.
Rio, mar, ondas, água, fogo, tudo se perde na vastidão de tua essência, na amplitude de teu gesto, no calor de teu abraço.
Com você o mundo deixa de ser mundo para ser apenas a matéria onde se originou o big bang.
Nada mais importa. Nada mais conta. O sentido de todas as coisas é ser parte de você que é a dona do meu amor.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.