Cadê os marronzinhos?
Um amigo fez uma provocação inteligente. Me perguntou o que eu estava achando do trânsito em tempos de pandemia. A conversa entrou no assunto porque contei que, poucos dias antes, quase tinha atropelado um ciclista que cruzou o semáforo vermelho como se não fosse com ele.
Leia também: As placas de trânsito
E não era ruazinha, era avenida de porte, com trânsito denso, ônibus, caminhões e carros em fila contínua, até em tempos de pandemia.
Quem sabe tenha sido isto. Como o ciclista vinha pela avenida, em teoria mais importante que a transversal, deve ter se lembrado – e querido reviver – a zona que tomou contas das ruas no período em que as pessoas acreditaram no isolamento social e ficaram em casa.
Pedalar na contramão, cruzar ruas sem olhar para os lados, ir pelas calçadas, dividir os espaços com os motoqueiros e um ou outro carro se tornou hábito e até agora, quando as ruas já estão bem mais cheias, ainda faz brilhar os olhos dos motoqueiros e ciclistas que seguem suas rotas desvairadas como se estivessem cavalgando para o Valhala.
Meu amigo pegou minha narrativa como gancho e perguntou, de chofre, se, além da experiência desagradável, tinha sentido alguma mudança nas ruas.
A resposta foi rápida: o trânsito melhorou. E o complemento também: tem menos carros nas ruas, então está fluindo.
Ele me olhou, sorriu e perguntou – só isso? Aí caiu a ficha. O problema não é o número de carros, mas a ausência dos marronzinhos. Desde o começo da pandemia, os marronzinhos desapareceram das ruas da cidade.
Leia também: Novas normas do Código de Trânsito Brasileiro
O trânsito fluindo bem, mesmo com um bom número de semáforos desligados, é a prova de que eles são inúteis, para não dizer que atrapalham. Sem marronzinhos, mesmo com os motoristas, ciclistas e motoqueiros alucinados, o trânsito flui e os congestionamentos diminuíram.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.