As ruas dos jardins
As ruas dos jardins não foram pensadas para aguentar o tráfego que atualmente passa por elas. Quando a Cia. City desenhou o modelo dos bairros, pensou ruas pequenas, que deveriam servir quase que exclusivamente o trânsito local, desaguando em ruas maiores, que ligariam os moradores às grandes avenidas, pelas quais entrariam na cidade propriamente dita.
Acontece que São Paulo é uma cidade alucinada e o que os planejadores da primeira metade do século 20 previram simplesmente já ficou no passado, boa parte, inclusive, esquecida pela história.
Ao longo dos anos a cidade cresceu num ritmo frenético que a fez ser a “cidade que mais cresce no mundo”, dito com orgulho por milhões de paulistanos, sem a menor ideia do que lhes reservava o futuro.
O futuro veio, viu e se transformou em passado. Hoje, a realidade brutal é que as ruas dos jardins se transformaram em vias de passagem para o trânsito pesado de milhares de veículos que se servem delas para ir e voltar, muitas vezes levando e trazendo os moradores do pedaço.
Quando a Cia. City desenvolveu os bairros cada casa tinha no máximo um automóvel. Logo em seguida, este número cresceu para dois, onde ficou por muitos anos, até um novo salto, na década de 1970, trazer para as garagens mais dois ou três carros, com a sem cerimônia de quem vai até a esquina, escolhe e compra.
É triste ver casas maravilhosas deteriorando e perdendo valor porque estão em corredores de tráfego, onde é proibido estacionar para não atrapalhar quem passa. É triste, mas é assim mesmo. São Paulo não perdoa. Segue em frente, ainda que de forma antropofágica, devorando a qualidade de vida de quem mora nela, mas não percebe o drama.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.