A névoa
A névoa é marca registrada de São Paulo. Ou melhor, a neblina era marca registrada da cidade. Mas a neblina tradicional, aquela que era densa de quase ser cortada com faca, acabou faz tempo. Foi substituída por uma névoa que normalmente nem de longe lembra o cenário de filme de terror em que se transformavam as madrugadas das ruas paulistanas.
Mesmo assim, este resto de neblina, esta névoa que ainda pode ser cerrada ao ponto de dificultar o controle de voo nos aeroportos, tem toques de poesia pura. De emoção de filme de ficção científica, quando a astronave terrestre entra na atmosfera de um planeta novo e desconhecido, onde aventuras inimagináveis dão sentido ao filme.
São Paulo de manhã cedo, num dia de inverno, consegue despertar sensações pouco comuns no peito da gente.
Ver a cidade acordando, ainda tingida com um vermelho que vai decaindo para o laranja, tem uma magia especial, um encanto que faz pensar no mundo no seu começo, quando os grandes dinossauros andavam sobre a terra e asteroides malucos cortavam céu em voos suicidas que acabavam em trombadas cósmicas capazes de destruir a vida. Que o digam os dinossauros, que desapareceram depois de 150 milhões de anos em cima do planeta.
E que o digam nosso primeiros ancestrais que por alguma razão ainda pouco clara, sobreviveram ao impacto e ao seu holocausto.
São Paulo no começo das manhãs de inverno faz pensar em coisas boas e belas, ainda não corrompidas pelo trânsito ensandecido, nem pela loucura que assalta seus moradores à medida que o dia sobe.
É a mesma sensação que nós temos ao escutarmos os pássaros nas madrugadas de primavera. Boa e quente como a vida.
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