As tipuanas no inverno
O inverno, até quando faz calor, como acontece nos invernos brasileiros, é a estação em que o verde seca, perde o brilho, como se a intensidade da vida ficasse mais fraca.
A grama perde o viço, as folhas das árvores caem ou amarelecem e até os pinheiros que ficam verdes o ano inteiro, ficam com o ar mais triste, perdidos em reflexões profundas sobre o sentido da vida, quando o vento sul passa feito fio de navalha nos galhos que se arrepiam.
Os poucos plátanos que enfeitam São Paulo perdem completamente suas folhas. Eles se lembram dos plátanos europeus e por isso os imitam, deixando as folhas caírem como se fosse sua missão fecundar o solo das florestas com a matéria prima das folhas secas.
Os galhos dos plátanos, nus, são a continuação do vento sul, o lógico, quando na infância assistimos os desenhos de Walt Disney.
Onde a coisa pega é nos galhos das tipuanas. Não sei se elas nasceram e foram criadas para enfrentar o inverno paulistano. Pode ser que sim, pode ser que não. De qualquer forma se habituaram e por isso estão aí, nas ruas, faz décadas, dando sombra nos dias de verão.
As tipuanas são árvores de dramáticas. Seus galhos estão sempre estendidos para o alto, em prece pedindo pra Deus sabe-se lá o que.
Elas pedem em nome de todos nós, habitantes do planeta. E pedem com fé, por isso se esticam todas, elevando os galhos o mais alto possível, feitas em contraponto para nossas religiosas que quando oram, se encolhem, ajoelhadas em sinal de submissão.
No inverno os galhos da tipuanas ficam ainda mais dramáticos. Nus de folhas eles se erguem feito esqueletos descarnados, condenados sempre apenas pedirem.
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