O tempo passa
O tempo passa. E passa de várias formas. Passa nos minutos do relógio, nas datas se sucedendo dia após dia nas folhinhas que no fim do ano jogamos fora, nas estações, que em São Paulo não são tão nítidas.
O tempo passa nos primeiros amigos que morrem ainda cedo e são seguidos por outros que morrem já não tão cedo. Passa nos parentes que vão se transformando em fotografias, nas pessoas que foram importantes, mas de quem não nos lembramos mais; e nas pessoas para quem fomos importantes e que também não se lembram mais … de nós.
O tempo passa nas casas em que vamos morando, na pintura rachada do muro que era novo. Na rua em que as casas são derrubadas para dar lugar aos prédios.
Passa nos lugares que já não existem e que eram gostosos de ir. No sorriso dos garçons que não são mais os mesmos. Nas flores que murcham sem sentido nos vasos da memória.
Passa nos pores do sol que mudaram de lugar, nas praias desertas que hoje vivem lotadas, nas estradas que eram de terra e que agora, asfaltadas, são um perigo contínuo.
Passa nas armadilhas da lembrança que mudam datas e fatos. Na ausência sempre presente de alguma coisa que deveria estar, mas não está mais, nem nos lembramos dela.
O tempo passa. Passa nos primeiros cabelos brancos. E nos muitos momentos que poderiam ser, mas não são. Passa no espelho do banheiro, todos os dias de manhã cedo.
O tempo passa, inexoravelmente, na vida dos filhos, e na esperança dos netos. Passa no ritmo dos anos que nos fazem querer viver mais pra não esquecer das estórias e sempre dividi-las com quem nós amamos.
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