Uma cidade é feita por gente
A razão de ser de uma cidade é abrigar pessoas. É verdade que no passado existiram cidades sagradas cuja missão era abrigar deuses, mas elas sempre foram minorias. A razão de ser de uma cidade é dar guarida ao ser humano. Portanto, o negócio da cidade é ser amigável, receber e aceitar as pessoas, dando para cada uma o melhor possível, dentro de parâmetros que respeitem a viabilidade da fática e sempre com dignidade.
Uma cidade tem que ser digna. Não há como se ser a casa da coletividade humana, sem que haja uma forte dignidade entranhada no mais fundo de cada componente do coletivo, em cada peça do quebra cabeças, em cada muro, telhado, sombra ou sonho. Todos devem saber quanto valem porque o mais sem valor vale muito. Da mesma forma, todos devem saber que ninguém é igual a ninguém, e que é por isso que a Bíblia fala em semelhantes e não em iguais.
Já dizia o provérbio capiau: Todo mundo é de alguma forma inteligente. É verdade. E mais: Todo mundo é de alguma forma competente. Não é a diferença física, nem intelectual que faz alguém melhor, ou pior.
A cidade tem que ter esta sensibilidade e este cuidado. Cabe à coletividade fazer da urbe o lugar mais agradável, a casa da companheira, a certeza do porto seguro.
Faz tempo que São Paulo se esqueceu disto. Faz tempo que a cidade não respeita as diferenças e limitações que fazem cada ser humano único, com seus defeitos e qualidades, como se a imagem de Deus fosse múltipla e se refletisse em milhares de espelhos cósmicos. É hora da cidade mudar. É tempo dela respeitar todos seus habitantes, sejam quem forem e como forem. E cabe a nós fazer que ela faça isto.
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