Um retrato brasileiro
O Butantã tem alguma coisa de samba do crioulo doido e de miniatura do retrato do Brasil. A praça da casa do bandeirante não se chama praça da casa do bandeirante, chama-se praça Monteiro Lobato, numa homenagem muito menor do que o homenageado, que, pela obra infantil, se fosse americano, estaria no nível de um Walt Disney.
Qual a relação entre Lobato e os bandeirantes é algo que ninguém consegue saber. A explicação pode estar no fato do escritor ter sido um lutador, um desbravador das novas fronteiras econômicas do país, tendo-se entregado de corpo e alma a lutas como a da prospecção do petróleo, muito antes de se falar em Petrobrás.
De qualquer forma a ligação passa por uma linha tênue que teria outra explicação mais simples e mais densa se a praça se chamasse Bartolomeu Bueno, Borba Gato, Raposo Tavares, ou Manuel Preto.
Mas a coisa só começa por aí. Ao lado da praça Monteiro Lobato fica a rua Hans Staden, que nos remete aos primórdios da vida nacional, numa mistura que não explica o nome da praça da casa dos bandeirantes, nem o que o artilheiro do forte da Bertioga veio fazer ao lado do criador do Sítio do Pica-pau Amarelo.
E para completar a confusão, a rua Hans Staden entra de sola na rua Alvarenga, vulto quase esquecido do começo da epopeia de 1932, morto com Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo, em maio daquele ano, mês e pouco antes do início da revolução.
É esta mistura de sangues diferentes, de épocas diferentes, de gente com histórias diferentes que faz do bairro um pequeno retrato da história do Brasil. Nós somos uma imensa mistura de vontades as mais diferentes, todas unidas para formar uma grande nação.
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.