A vida vista do alto
Fazia tempo que eu não tinha a chance de ver vida do alto, do décimo sétimo andar de um prédio na avenida Paulista, separado do mundo lá fora por uma grossa janela de vidro.
É impressionante como o mundo muda quando a perspectiva é outra, mais alta do que nossa vã insignificância, entre um metro e meio e dois metros.
Do alto dos 17 andares do prédio na avenida que é a cara de São Paulo, a dimensão do espaço cresce, em telhados mais baixos, em antenas, em imagens inusitadas, como um jardim suspenso, com gramado, playground e piscina com trampolim, logo ali, em cima de um corredor de lojas, dentro do qual ninguém imagina o que tem em cima.
Lá no alto o horizonte fica longo e a cidade se espalha, num convite permanente para a aventura da vida alongada na direção de todos os nortes, infinitamente grandes, até depois do horizonte.
Em baixo os carros ficam pequenos, como formigas apostando uma corrida lenta, em manobras esquisitas, de um lado para o outro, desviando de obstáculos invisíveis, ou escondidos dentro das cabeças das pessoas.
E os seres humanos ficam menos que as formigas, pulgas, saltando pelas calçadas, numa fila estranha que anda num ritmo mais estranho ainda, pateticamente apressado, mas mais lento que o das formigas que correm pelo asfalto negro, mas param de repente, brecadas pelo condicionamento da luz vermelha que se impõe, forte e poderosa, brilhando nos postes plantados nas esquinas, substituindo as árvores que há muito perderam seu espaço.
Vista do alto a vida na cidade grande é engraçada como um desenho animado; como algo que é, mas se nega e passa longe de nós.
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