O enunciado da ameba
As teorias são desenvolvidas para serem testadas e se derem certo se transformam, depois de longos estudos e observações, em certezas que geram enunciados que se colocam entre as verdades definitivas, até serem alterados por outra verdade que prova que a antiga verdade já não é verdadeira.
O resultado desta cadeia é o progresso da humanidade, iniciado lá se vão alguns milhares de anos, quando um hominídeo desconhecido pegou uma pedra ou um osso e meteu na cabeça de outro, inventando a morte levada longe, a primeira certeza que mudou o mundo humano.
De lá para cá centenas, ou melhor, milhares de certezas deixaram de ser certezas, transformando-se até em piada, mas depois de cumprirem seu papel histórico e empurrarem a humanidade um pouco mais pra frente.
Há alguns anos eu levantei a teoria de que a única forma de se sobreviver com sucesso nas ruas de São Paulo é adotando a postura da ameba.
Ninguém nunca ouviu falar de uma ameba morta a tiro ou facada. A razão para isso é que as amebas não provocam ninguém, não se metem a besta, nem chamam atenção sobre si, como fazem as rolinhas que são mortas, ciscando feito loucas, no chão dos terreiros.
A teoria da ameba hoje pode ser considerada uma certeza. Nenhum motorista que acreditou na verdade das amebas e se comportou feito elas, morreu de tiro, facada ou briga, nas ruas da cidade.
Por isso me parece apropriado criar o enunciado da ameba, que pode ser resumido como segue: quem não acredita que a violência é a melhor arma contra a violência e se mira no exemplo das amebas e dirige como as amebas, tem mais chance de sobrevida, dirigindo em São Paulo.
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