A última flor da orquídea
As orquídeas estão entre as plantas mais soberbas e difíceis. Como sabem que são lindas quando estão com as flores abertas, não fazem nenhuma questão de fingir uma modéstia que não possuem – nem cultivam – certas da perenidade de um momento passageiro, que nem a vida e o tempo conseguem faze-las compreender.
A beleza passa. Exceto quando aprisionada nas obras de arte, a beleza envelhece, perde o viço e se acaba, morrendo como todas as formas de vida, ou como o que não tem vida, mas se transforma, e também acaba.
Nem mesmo a beleza de um pôr do sol ou de uma lua cheia refletida num lago dura mais que as poucas horas de um fim de dia, ou de uma noite. No mais são lembranças que ficam na memória de quem os viu e que também se acabam com a morte dessa pessoa ou até antes, com esquecimento que também faz parte da vida.
Mas as orquídeas não acreditam nisso. Por isso insistem e insistem em serem soberbas e abusar da beleza fugaz que vida lhe deu no momento de suas floradas. Quem sabe seja uma forma de compensar a insignificância de suas vidas ao longo do resto do ano, quando se resumem a serem finos galhos, ou bulbos, sem qualquer atrativo.
Na florada elas se esbaldam e nós aproveitamos sua beleza mágica e perfeita para enfeitarmos nossas vidas, enchendo os olhos com as flores maravilhosas que pendem em cachos dos galhos e dos bulbos.
Depois, lentamente – as flores das orquídeas têm vida longa – elas vão secando, secando, e caindo das plantas, como os pingos da chuva que caem de uma goteira no telhado, um a um, até que fica apenas uma, seca, pendurada no galho, balançando até também cair.
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