Carrinho de rolimã
A rua Teodoro Ramos é até hoje, apesar da loucura que toma conta da cidade, uma rua tranquila. Escondida no meio do Pacaembuzinho, ela fica perto da rua Almirante Pereira Guimarães e outras ruas de movimento pesado, mas acabou ao largo do barulho e do caos, tirando seu começo, usado como estacionamento por quem trabalha na região.
A rua Teodoro Ramos é arborizada com árvores grandes e belas, algumas delas provavelmente tomadas por cupins. Ela sobe do postinho do Pacaembu até a porta do fundo do cemitério do Araçá, numa ladeira que vai ficando mais íngreme à medida que sobe.
Quando eu era menino a rua Teodoro Ramos era mais tranquila ainda, e isso permitia usarmos sua descida inclinada como pista para carrinho de rolimã. Cortada só por dois cruzamentos, ela era fácil de percorrer, numa descida desabalada e irresponsável, absolutamente sem breque e sem medo de um eventual acidente, nas rodinhas ensandecidas dos carrinhos de madeira, sem segurança nenhuma.
Foi uma época em que era bom ser menino. Descer de carrinho de rolimã as Teodoro Ramos da vida, andar de bicicleta pelo bairro, visitar os primos e, quando dava, nas noites que os pais saiam para jantar fora ou outro programa qualquer, do alto de nossos 15 anos, roubar o carro e dar umas bandas pelas ruas desertas e escuras.
Hoje, a cidade mudou, o mundo mudou, o jeito de ver a vida mudou. Ficou mais perigoso, mais alucinado, mais sem sentido. Levar um tiro é fácil. Ser morto no trânsito é fácil. E não dá mais para descer as ladeiras dos bairros em carrinhos de rolimãs desabotinados, como máquinas de corrida comparáveis aos fórmulas um, pelo menos na cabeça dos meninos de quarenta anos atrás.
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