A sonda e o cometa
Quero me fundir em você como a sonda que se atirou contra o cometa. Quero me integrar em você como a sonda se integrou no cometa, numa explosão brilhante onde a sonda deixou de ser sonda para ser parte do cometa.
Quero me atirar conscientemente, não como um kamikaze alucinado, querendo destruir, matar e afundar navios, mas como o espermatozoide que fura o óvulo, e o fecunda, para criar outra vida, composta por dois opostos unidos na aventura de se abrir, e se unir, ao desconhecido.
Quero ser parte de você como a sonda passou a ser parte do cometa. Para navegar pelo espaço mágico do seu ser cruzando o cosmos. Para ser muito mais que a soma das células na formação de seu corpo, de sua mente, de sua vontade.
Para ser o imã que atrai sua vontade e te faz querer mais porque o mais é bom e ir além da razão é a razão de estarmos aqui.
Quero ser o brilho da sonda explodindo todos os brilhos de todas as vontades adormecidas; o brilho explodindo o próprio brilho, feito fogos de artifícios, feito supernovas, feito buracos negros antes do fim, quando a lembrança do primeiro momento ainda consegue escapar e voa eternamente pelo infinito, feita em cometa, constelação, ou outra galáxia, com todos os seus mundos girando em volta de todos os sóis.
Quero ser como a brisa que passa pelos teus pelos e arrepia teus poros, entrando pela carne sutilmente, como um vírus que se revela trazendo a cura para todas as doenças.
Quero ser teu pensamento pensando em mim; tua saudade do meu corpo; tua sede de minha presença. Quero ser tudo que te é caro, a imensidão do mar, a lua cheia – o grão de pó de onde viemos.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.