Para organizar a enxurrada
Se Deus limitou a inteligência para cima, pena que não tenha limitado para baixo. O fato é que ele não o fez e aí estão a política externa brasileira, nosso embaixador em Washington e a genial adoção do postulado “roussefiano” – “Não temos meta, mas quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta” – como carro chefe para o enfrentamento da pandemia do coronavírus são provas claras disso.
Mas o exemplo de hoje é mais prosaico, mais simples, apesar de ser mais danoso para centenas de pessoas atingidas pela genialidade de alguém da prefeitura que decidiu gastar dinheiro na região da City Butantã.
O bairro é sabidamente zona de enchente. Já vi as águas tomarem grande parte de suas ruas e invadir residências mais de uma vez.
Nos últimos 20 anos a situação vinha melhorando, tanto que, mesmo com as águas subindo, poucas casas eram atingidas. No ano passado parece que mudou. Em janeiro de 2020 a água atingiu um ponto assustador e agora a prefeitura quer levar o quadro à perfeição.
Depois de reordenar as mãos das ruas, invadidas pelos motoristas que seguem os aplicativos, numa ação importante e sensata, a prefeitura decidiu construir pracinhas nas confluências com a Rua Alvarenga e nas rotatórias no meio dos quarteirões.
Além de inúteis, estas obras, numa hora em que a prefeitura não tem dinheiro para o básico, além de custarem, terão o mérito de, primeiro, represar o fluxo, depois, direcionar melhor as enxurradas e, no fim, impedir que as águas sigam seu curso normal, redistribuindo a vasão para zonas tradicionalmente no limite de alagarem, que, com o acréscimo da enxurrada redirecionada pelas pracinhas, com certeza invadirão as casas.
Não basta todos os desastres que nos assolam, a prefeitura ainda quer que neste verão as casas do Butantã sejam invadidas pela água.
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.