Férias são férias

Não há dúvida, mesmo não sendo mais o que já foi, o mês de janeiro é o melhor mês para se viver na cidade de São Paulo.

Graças às férias de verão, o mês de janeiro, ainda que com mais gente e até mais trânsito do que há poucos anos, ainda é uma ilha de paz no meio do ano alucinado que é a marca registrada da metrópole.

Entra ano, sai ano, em janeiro a vida pega mais leve.

Como se cada cidadão ganhasse um passe para um parque diversões, no mês de janeiro as pessoas pegam mais leve, atrás de roupas mais leves e de muita cerveja gelada para quebrar o mau humor do calor.

As ruas ficam mais tranquilas. Os motoristas despem parte de suas armaduras de ódio. Os marronzinhos, quando não chove, se mostram mais atenciosos. E os outros motoristas até deixam você passar na frente, sem ficarem tomados da ira santa que deu nas cruzadas.

Cada um se contenta com seu. Um acha bom conversar com o outro, o outro também acha bom conversar com o um e todos ficam mais alegres e de bem com as coisas, como se neste mês fosse decretada uma trégua impossível de ser rompida, promovida num acordo divino, assinado nas profundas do cosmos.

Quem sou eu para entrar nestes mistérios. São coisas muito além da compreensão humana e por isso não nos cabe dar palpite.

Nos cabe apenas agradecer e aceitar, numa inversão absoluta da ordem do universo. Afinal, nos dias normais, quem faz os sacrifícios são os seres humanos. Mas estamos no verão, então nada mais justo do que os deuses recompensarem os homens de boa vontade, pelo menos com um chope gelado.

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