As árvores
Eu amo as árvores em geral. Qualquer “pé de pau”, até o mais feio e mais fraco mexe comigo. Seja um tronco carbonizado e retorcido no meio de um pasto queimado, seja uma árvore coberta de folhas e flores, seja um arbusto insignificante tentando ocupar algum espaço, as plantas me enfeitiçam.
É por isso que não posso achar São Paulo feia. É uma cidade com muito cinza, triste, onde as pessoas fogem das outras, mas é, também, uma cidade com árvores deslumbrantes que ainda por cima florescem o ano inteiro, numa sequência linda, onde a cores se sucedem como que para alegrar a vida de quem mora por aqui.
Cada uma no seu tempo, desde o começo do ano, até o começo do ano seguinte, São Paulo se enfeita, colorida pelas flores das árvores e dos canteiros descuidados que insistem em florir no meio do asfalto.
Têm grupos que são mais famosos, mais ricos, mais coloridos, que atuam como que combinados uns com os outros, mas tem também árvores isoladas, que se enchem de flores porque seu destino é se encher de flores, sem outro porquê senão seguir o ritmo da natureza, independentemente da cidade e de quem mora nela.
São árvores egoístas, mas que não percebem que acabam entrando no jogo e fazendo nossas vidas mais alegres, porque do meio do nada, de repente, elas surgem, como que numa brincadeira de Deus, para diminuir a raiva do trânsito parado, a solidão do carro com o rádio ligado, a saudade da cama quente de onde não deveríamos ter saído, de manhã.
Cada árvore tem seu tempo e seu ritmo. Cada uma gosta de uma época do ano, mas todas juntas são uma orquestra afinada com a missão – quem sabe – divina de fazer nossos dias melhores.
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