As espatódias querem sua vez

Quando eu era menino as espatódias se chamavam mija-mija. E eram apresentadas com este nome para gente tão importante quanto o prefeito de Paris, abismado com o tamanho da árvore e com suas flores vermelhas, cheias d’água, que serviam para fazer guerra entre as crianças que as apertavam com os dedos, molhando os adversários correndo pelo jardim.

A maior e mais bonita de todas as espatódias, pelo menos entre as que eu conheço, não está em São Paulo, está em Louveira e era ela que servia de arsenal para as longas guerras que nós fazíamos, apertando suas flores cheias d’água.

Mas se esta árvore imensa e deslumbrante não fica em São Paulo, as espatódias têm representantes de peso plantadas na cidade. Não são muitas e por isso não podem ser comparadas à explosão das quaresmeiras, mas algumas delas impressionam, pelo porte do tronco e pela riqueza das flores vermelhas balançando nos cachos pendurados no vento.

É comum vê-las pela cidade, mais em jardins do que nas ruas. Entre elas, eu já escrevi, tem uma na rua Atlântida que justifica uma visita. É uma árvore altiva, imponente e sabedora da sua beleza, que não se faz de rogada para exagerar no visual agressivo do vermelho ardente de suas flores embandeiradas nos galhos, como que desafiando a brisa do dia e as tempestades do final das tardes.

É árvore para ninguém botar defeito. Árvore com “a” maiúsculo que deve levar meu primo Fernão, todas as vezes que sai de casa com tempo de prestar atenção nela, a uma viagem fantástica, quando o jardim da fazenda recebia os prefeitos de Paris com o mija-mija florido.

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Foto: Pleisbilongtumi