Falar ou ficar quieto?
Falar é comunicação, ou não? Depende. Poucas coisas causam tantos mal-entendidos como as palavras. Se não fosse a palavra – no caso o verbo – provavelmente Adão e Eva ainda estariam no paraíso. Deus não teria explicado a proibição da maçã e sem proibição, comer ou não comer era um mero ato natural e simples, como fazer xixi.
Não fosse a palavra e as promessas não seriam quebradas. Não haveria promessa e portanto ninguém as quebraria, como acontece regularmente, ainda que pegando a gente de surpresa – quando quem quebra é o outro.
A palavra é um risco imenso. Dita fora de hora complica tudo, dita errada, piora mais ainda. Não dita também é um rolo, ainda mais quando o silêncio é a resposta para a pergunta feita de supetão, quando você não espera que ela fale: “você acha que eu engordei?”
Minta. Minta mas não fique quieto, porque, neste caso, o silêncio é pior que a mentira, que bem dita, é caridosa, pura, e tem um fim nobre: evitar a tempestade e a enxurrada de palavras que você terá que suportar se responder à pergunta com a honestidade que ela não espera de você.
Quem cala consente. Se falar é prata, ouvir é ouro. Tudo mentira. As duas situações são dramáticas ou podem se tornar dramáticas, dependendo do tema e do enfoque.
Por isso, se tiver jeito, antes dela perceber que você vai se calar ou que você possa dizer alguma coisa inconveniente, fuja. Abra a porta e saia correndo em direção ao seu carro, entre nele, dê a partida e suma, fique escondido até quando as palavras ou o silêncio estiverem esquecidos e terem ou não, sido ditas aparecer como um santo remédio. Lembre-se: o grande drama do homem sobre a terra é falta de comunicação.
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