O porquê das coisas

Dizem que todas as coisas, todos os acontecimentos, todos os imprevistos, têm um porquê. Uma razão absoluta que o faz inadiável, no momento em que ocorre.

Um segundo antes seria cedo, um milionésimo de segundo depois seria tarde. Como dizem os militares: a hora é a hora!

Ninguém escapa do seu destino, ninguém adia sua hora. Até peru que antigamente morria na véspera, hoje já chega morto e congelado nas cozinhas onde são preparados para a gula das festas.

O problema é saber se existe alguma força superior coordenando tudo isso. E se é uma força só, como ela faz para coordenar milhões e milhões de acontecimentos simultâneos, mas independentes que atingem pessoas que nunca se viram, fazendo a felicidade de umas e a tristeza de outras?

Será que Deus tem um exército de auxiliares capazes de comandarem equipamentos tão sofisticados quanto os radares dos caças modernos que monitoram não sei quantos alvos ao mesmo tempo?

Ou será que as coisas correm soltas e o acaso é quem se encarrega de criar os encontros inadiáveis, os momentos definitivos, as curvas e as retas nos cruzamentos de cada caminho?

Quem sou eu para saber essas coisas! Mísero mortal filho de mulher, olhar para o céu e entender por que os dias têm tons de azul diferentes já é um esforço muito grande e mesmo tendo uma resposta lógica e científica a diferença dos azuis me fascina e me surpreende, com a mesma emoção – ou comoção – que o desastre inevitável, que o encontro na hora marcada, que a risada nos cruzamentos da vida.

Se há um porquê, não nos foi dado entendê-lo.

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