Certos dias
Tem dias que o mundo, de repente e sem aviso, cai em cima da gente. É uma paulada firme, doída e malvada, que pega onde ninguém espera, machucando feito um chute na canela.
Não tem aviso prévio, nem sinal de fumaça. A coisa acontece, sem mandar recado e sem porque, porque é assim que o mundo gira.
Quem for esperto, ou estiver numa situação mais jeitosa, até consegue diminuir o tamanho do impacto, mas dificilmente consegue evitar o estrago inteiro, por menor que seja.
Só que tem vezes que não tem como, o tranco pega de frente, como um tiro de 357 no meio do peito e aí é torcer para aguentar o repuxo e arrumar força pra tocar a vida, fazendo de conta que não aconteceu nada, que nem mulher de malandro, que quando apanha, apanha quieta.
É verdade que o mundo não é justo e que a intensidade varia de paulada para paulada, de pessoa para pessoas. Tem umas que tem mais sorte, ou de quem Deus gosta mais, que passam pela vida como uma brisa de outono, mal e mal sentindo que existe um lado duro, ou que nem sempre os dias podem ser bons.
Outros sentem o peso da sorte de forma mais amarga, rasgando a carne e machucando naquilo que dói mais.
Mas ninguém passa por este mundo, sem de uma forma ou de outra, sentir na pele o que é estar vivo e o que o provérbio quer dizer, quando fala que pimenta nos olhos dos outros não arde.
Todo mundo, em algum momento, sente a pimenta nos próprios olhos. Pode arder mais, ou arder menos, mas arde e aí não tem jeito, o lado feio ou triste da vida mostra a sua cara e é hora da gente ficar quieto, esperando a má hora passar, como passarinho que entra no ninho, quando vê gavião voando.
Faz parte da vida e depois da tempestade, com um pouco de paciência, o sol acaba brilhando de novo.
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