O ônibus e o poste
O rádio é uma ferramenta fantástica para quem mora na cidade São Paulo. Através dele é possível fugir do trânsito péssimo para o trânsito ruim, escapar de um movimento de camelôs, rodear os perueiros, enfrentar os marronzinhos e ajudar os outros, telefonado e passando informações, normalmente, mais úteis do que as das autoridades.
Além disso, o rádio permite o voo da imaginação, porque não tendo imagem, permite que cada ouvinte desenhe cada voz com a cara que ele acha que lhe cabe.
Mas o rádio também pode ser fantástico, pelos textos nem sempre exatos, ainda mais quando é feito ao vivo, como acontece com as AM’s de notícias.
Foi um destes que me fez voar, imaginando a cena e começando a rir dentro do carro.
De repente a repórter entrou para informar que “o trânsito estava complicado, não me lembro em que região da cidade, porque um acidente envolvendo um ônibus e um poste tinha parado a rua”.
A primeira ideia que me veio é se o culpado não seria o poste, que se atirara debaixo do ônibus, tentando por fim a vida, por causa de uma placa de trânsito pendurada nele, por quem ele se apaixonara, mas que depois de dois ou três encontros, não queria mais tocar o romance, com medo do temperamento do poste, francamente emotivo e terrivelmente passional.
Foi aí que eu percebi que não era isso. O poste se atirara debaixo do ônibus, mas para matar a placa, que estava toda amassada, caída num canto da rua.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.