Olhar as estrelas
Tem dias que a melhor coisa que a gente faz é levantar a cabeça, olhar para cima e procurar as estrelas.
É verdade que nem sempre é possível encontra-las, que tem noites em que o céu está nublado e outras onde a lua cheia tapa o brilho da maioria das estrelas, deixando só uma ou outra, mais forte, junto com Marte e Vênus, brilhando no céu azul escuro.
São noites comuns numa cidade como São Paulo, onde a poluição pouco controlada se impõe como verdade definitiva. Mas faz parte da vida, e nem por isso quer dizer que não tem noites em que a única coisa a fazer, para evitar a explosão do próprio mundo, é levantar a cabeça e procurar estrelas no céu.
Olhar de um lado para o outro, sabendo que os 4 cantos estarão desertos porque a luz da cidade esconde as estrelas e as rotas, deixando cada ser humano um escravo das ruas alucinadas que não param, 24 horas por dia.
É duro, mas é assim. Procurar as estrelas é tudo que nos resta, depois de um dia terrível, onde tudo deu errado e não há espaço para desculpas, porque o erro foi nosso, desde o começo, ou até antes dele.
Sobra olhar pra cima e procurá-las, como a tábua de salvação, como o salva-vidas perdido boiando ao lado mas inatingível, num mar revolto e escuro, numa noite sem lua, em algum lugar onde nunca estivemos antes.
Sobra não sobrar nada, exceto a vontade de ver as estrelas, ou de fingir que as estamos procurando, porque fingindo que é assim, a vida passa, o momento passa, e, de qualquer jeito, amanhã cedo, o sol vai brilhar de novo.
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