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Olhar as estrelas

Tem dias que a melhor coisa que a gente faz é levantar a cabeça, olhar para cima e procurar as estrelas.

É verdade que nem sempre é possível encontra-las, que tem noites em que o céu está nublado e outras onde a lua cheia tapa o brilho da maioria das estrelas, deixando só uma ou outra, mais forte, junto com Marte e Vênus, brilhando no céu azul escuro.

São noites comuns numa cidade como São Paulo, onde a poluição pouco controlada se impõe como verdade definitiva. Mas faz parte da vida, e nem por isso quer dizer que não tem noites em que a única coisa a fazer, para evitar a explosão do próprio mundo, é levantar a cabeça e procurar estrelas no céu.

Olhar de um lado para o outro, sabendo que os 4 cantos estarão desertos porque a luz da cidade esconde as estrelas e as rotas, deixando cada ser humano um escravo das ruas alucinadas que não param, 24 horas por dia.

É duro, mas é assim. Procurar as estrelas é tudo que nos resta, depois de um dia terrível, onde tudo deu errado e não há espaço para desculpas, porque o erro foi nosso, desde o começo, ou até antes dele.

Sobra olhar pra cima e procurá-las, como a tábua de salvação, como o salva-vidas perdido boiando ao lado mas inatingível, num mar revolto e escuro, numa noite sem lua, em algum lugar onde nunca estivemos antes.

Sobra não sobrar nada, exceto a vontade de ver as estrelas, ou de fingir que as estamos procurando, porque fingindo que é assim, a vida passa, o momento passa, e, de qualquer jeito, amanhã cedo, o sol vai brilhar de novo.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.