Os helicópteros e os elefantes
Um elefante amassa muita gente, dois elefantes amassam muito mais. Verdade antiga e descoberta na marra por gente que lidava com elefantes e que sentiu na pele a violência da pancada, com as bestas feras correndo desembestadas atrás deles que fugiam, fugiam, fugiam, mas acabavam alcançados porque os elefantes corriam muito mais.
Mas se um elefante amassa muita gente, um helicóptero maça muito mais. E se dois elefantes amassam muita gente, dois helicópteros maçam muito mais.
Há pouca coisa mais infernal e irritante do que um helicóptero parado em cima da sua cabeça, com o barulho do rotor te levando a loucura. Pior só dois helicópteros, e pior ainda três.
O duro é que acontece com frequência cada dia mais constante nos céus da cidade de São Paulo. Vai se o tempo que helicóptero era uma ave rara e só um ou outro passava voando, quando muito uma vez por semana.
Hoje esses elefantes voadores zanzam de um lado para o outro, fazendo as coisas mais corriqueiras, como se fosse normal um elefante voador amestrado voar pelos céus das cidades, maçando o dia de quem está embaixo.
Elefantes não voam, com exceção do Dumbo, mas esse quando voa, voa como as aves, com seus orelhões abertos e sem fazer barulho, planando pelo céu, num bailado mágico entre ele e o vento.
Os helicópteros não. São barulhentos, irritantes e seu voo mecânico tem alguma coisa de antinatural, como se permanentemente desafiassem a gravidade e só conseguissem ficar no céu porque Deus os prende por cabos invisíveis, como se fossem enormes marionetes.
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