Com a ajuda do Senhor

O Senhor é o meu pastor, nada me faltará; com Deus vou seguro; Propriedade do Senhor Jesus; Se Deus está comigo quem está contra migo? Eu leio e tremo. Tremo de medo, pensando no risco imediato e próximo e nas suas consequências possíveis.

Depois, reassumo o controle, me acalmo, e dou um jeito de fugir para o mais longe que der, se for o caso entrando em outra rua, mesmo encompridando meu caminho.

Quem dirige pelas ruas de São Paulo sabe os riscos imensos envolvidos em se sair de casa dentro de um automóvel. Qualquer manobra é permitida, todas as barbeiragens fazem parte do programa e o mais absoluto desprezo pela vida humana é a moeda corrente.

Carros, caminhões, motocicletas e bicicletas, para não falar em tratores e carroças puxadas por gente e animais, competem desesperadamente pelo título do pior de todos. E, por conta disso, a loucura é infinita, obrigando quem não está no páreo a tomar todos os cuidados para evitar ser atropelado, mesmo por gente muito menor.

Graças a Deus – que mais uma vez mostra que é brasileiro – uma das piores espécies de barbeiro faz questão de se identificar: os que levam Deus como copiloto gostam de contar sobre a parceria, permitindo aos que são simples mortais fugirem, antes de serem alcançados pelas bênçãos do céu, caídas não na forma do maná, mas numa batida, num beijo inesperado, por causa de uma manobra mal feita, de uma barbeiragem sem sentido ou da confiança na mão de Deus.

A tranquilidade com que boa parte dos portadores de adesivos com frases bíblicas nos vidros de seus carros dirigem mal é inacreditável. Como é inacreditável as coisas que conseguem fazer sentados atrás de um volante.

Por sorte Deus protege os que têm fé – e que acreditam em milagre para chegar vivo em casa. Por conta disso alguém inventou os adesivos divinos e nós, míseros mortais, com um pouco de sorte, temos tempo de fugir ao vê-los.

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