A florada dos hibiscos
Quando eu era mais moço, a cidade de São Paulo tinha uma quantidade enorme de hibiscos plantados ao longo dos muros das casas, nas praças e nos cemitérios.
Com o passar dos anos, os hibiscos foram saindo de moda, substituídos por outras plantas diferentes, que hoje se espalham pela cidade, cumprindo a mesma função de embeleza-la.
Os hibiscos estão reduzidos fundamentalmente aos cemitérios e aos seus muros, não porque sejam considerados bonitos, mas principalmente, porque os cemitérios, ao contrário de nossos mortos, são sistematicamente esquecidos pela administração pública.
Deve ser porque morto não reclama, nem tem o hábito de sair de casa, pelo menos durante o dia, quando poderiam ver o estado lastimável dos jardins de suas moradas. Além disso, em princípio, morto também não vota, o que diminui muito o interesse dos administradores em se preocuparem com seu bem estar.
Mas os hibiscos ainda sobrevivem também em uma ou outra casa, normalmente plantados rente aos muros, do lado de fora. São arbustos simpáticos, com galhos espaçados que se entrecruzam formando uma cerca viva.
Perto das árvores da moda, são vistos com desconfiança, mas, quando chega esta época do ano, como que querendo restaurar a grandeza perdida, os hibiscos se cobrem de flores vermelhas, com uma forma toda particular, e eles ficam lindos, muito mais bonitos do que a imensa maioria das plantas que vieram substitui-los.
Pode ser que os últimos remanescentes não tenham se dado conta da decadência, e que se imaginem ainda os senhores das ruas dos bairros arborizados da cidade. Pode ser que queiram concorrer com as paineiras. Eu não sei, o que eu sei é que, graças a Deus ainda têm casas com hibiscos nos muros, para darem para os olhos e para a alma a festa da sua florada que chega a ser sensual.
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