Orografia

Firmes, as duas montanhas se erguem paralelas, lado a lado, desafiando o céu, no final da campina que suavemente sobe em direção às suas bases. Cônicas, como vulcões adormecidos que, com certeza, um dia voltarão a explodir o magma da vida, elas, do alto de seus belos picos observam a vida que dança na distância da campina.

Entre elas, um vale se aprofunda e as separa, mas em suas sombras fala de rios, e águas, e ventos, que moldaram suas formas e delinearam o traço que se estende campina abaixo, como uma rota só pressentida, ou conhecida apenas por quem navegou por sua geografia.

A campina se estende em ondas e se divide em dois hemisférios claramente delimitados por abismos e colinas, e poços e trilhas. É uma campina fértil, onde sementes germinadas há pouco dançam devagar, embaladas por uma brisa mansa que nasce longe, no meio de um longo cânion que separa dois maciços paralelos, sólidos, íngremes e firmes, e sem rumos traçados para quem os busca pelos lados.

Deste corredor, onde misteriosamente ela se cria, a brisa sobe e atravessa uma mata de samambaias, úmida e escura, que esconde cavernas fundas e baliza a campina, e de onde saem borboletas que tomam de assalto a paisagem.

E a brisa e as borboletas trazem para a campina o cheiro bom da mata. E o misturam com o cheiro bom da seara. E um novo cheiro nasce, formado pela mistura dos cheiros da mata e dos campos, para misturar-se com o cheiro ameno do vale, onde as sombras e a umidade se encarregam de criar um outro cheiro, que nas encostas dos montes se mistura com o cheiro bom trazido pelo vento e faz da brisa a dona dos segredos primordiais, sem os quais não há vida, para que ela os espalhe, não conscientemente, mas de borboleta para corpo, de água para samambaia, de sombra para fonte, até religar o ser ao cosmos e explodir como o universo quando Deus usou o verbo.

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