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As tempestades e a água

A estiagem bruta que se abateu sobre o Brasil levou os reservatórios aos seus níveis mais baixos em muitas décadas. Não é imaginável o rio Paraguai correndo entre bancos de areia que no passado nunca vieram à tona. Também não deveria acontecer das cidades submersas pelas grandes barragens aparecerem, como fantasmas de outra época, brotando do fundo dos lagos vazios.

Mas é isso que está acontecendo e ainda deve demorar para o quadro voltar à normalidade, quer dizer, ao padrão que estamos habituados, seja lá o que isto quer dizer.

Está começando a chover de novo, mas vai precisar cair muita água para os rios e as represas voltarem aos níveis de alguns anos atrás. Não, a estiagem não é um fenômeno deste ano, não tem influência do coronavírus, nem qualquer relação com a pandemia que corre solta pelo mundo.

Faz alguns anos que chove menos do que as médias históricas e essa mudança do regime das chuvas teve como consequência afetar o nível das represas e dos rios, comprometendo o fornecimento de energia elétrica e de água. De outro lado, a elevação das temperaturas médias teve como resultado o aumento do consumo de água e de energia elétrica. O resultado é a crise que estamos vivendo e que pode ser que não passe tão cedo, mesmo chovendo muito este verão.

As tempestades que estão caindo forte e causando danos nas mais variadas regiões do país não são sinônimo de volta às médias históricas do regime dos rios e das represas.

Se as chuvas não caírem nos lugares certos, são muito bem-vindas, mas terão pouco impacto no restabelecimento da ordem com que estávamos habituados. É aí que mora o perigo. Ninguém tem certeza de que as chuvas e tempestades trarão o alívio que nós necessitamos.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.