Pra não falar do feio
Eu poderia dizer que está ficando feio, que a vaca está indo pro brejo, que já vimos esse filme e que nunca acabou bem. Ao contrário, a sina do Brasil é, toda vez que ameaçamos dar certo, aparecer alguém que dá um cavalo de pau e nos joga no lamaçal da crise, com tudo de dramático que ela tem e que cobra um preço caro da população.
Tem uma frase da época colonial que diz: “Meu sucessor me consagrará”. Lamentavelmente, é verdade. Na média, o que vem depois costuma ser bem pior do que o antecessor.
Estamos vivendo isso agora e vivemos isso antes do agora. No meio, há exceções e ficamos com saudades delas, ainda que na época não fossem consideradas o suprassumo da Pátria amada.
A inflação está subindo, o desemprego continua alto, milhões de brasileiros estão passando fome, a ameaça de retomada da economia foi para o saco e, para completar, a imagem internacional do Brasil não é pior porque não dá pra ser.
Mas para que falar nisso? Eu sei que é estúpido brincar de avestruz e enterrar a cabeça na terra. Não refresca nada, não muda o quadro, ao contrário, só deixa mais fácil para a fera nos pegar.
Mas, às vezes, deixar o feio e o triste de lado é bom, faz bem pra alma, nos permite não esquecer que o mundo pode ser bonito e que, se nós não fizermos muita besteira, dá pra aproveitar a vida.
A natureza está aí, dando de graça a maravilha das floradas que se sucedem ao longo do ano. Agora, os flamboyants estão abrindo seus cachos de flores vermelhas e o contraste com o verde das folhas fala de poesia, de encantamento, de paz e beleza.
Vamos nos dar meia hora de esquecimento. Vamos deixar a vida como ela é do lado de fora. Um pouco de sonho não faz mal pra ninguém.
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