Eu também vou andar de negro
Contra fatos consumados não há o que fazer. Ou se aceita, ou se aceita. Qualquer outra posição é tolice.
O que já foi, foi, e o máximo que é possível fazer é tentar mudar, mas pra frente, porque o que passou, passou, e não tem jeito, nem mesmo quando a gente quer dar jeito.
Vale indignação, campanha contra, voto de protesto, e, quem sabe, até um movimento guerrilheiro, para tentar mudar o fato, e faze-lo menos negro do que as roupas que usam de noite.
E é aqui que o bicho pega. Quando eu crescer também vou querer ser que nem o Zorro e andar vestido de preto.
É impressionante a monotonia, mas é assim que é. E é assim que eu também vou querer ser. Ninguém me segura, eu também vou andar vestido de preto.
Vou entrar nos restaurantes vestido de preto, com camiseta preta, calça jeans preta, e casaco nas costas… preto. Com sapato, ou, melhor ainda, bota preta, cinto preto e… cara de mau.
Detalhe da maior importância, a cara de mau é complemento indispensável para o sucesso, dando para a roupa preta a dignidade que os pistoleiros do velho oeste tinham e que, ao que parece, as moças de hoje, que também andam vestidas de preto, mas menos vestidas do que as moças daquele tempo, acham o máximo.
A única coisa que me preocupa é que provavelmente eu não conseguirei, nem quando crescer, ter os braços musculosos que os rapazes de preto invariavelmente têm e fazem questão de mostrar.
Hércules, Macisites, o poderoso Thor e até o Super Homem devem se roer de inveja, primeiro porque não andam vestidos de preto e, segundo, porque não têm os braços que os rapazes de preto mostram para as meninas de preto, pelas noites da vida.
A exceção é o Batman. Ele é mais forte e mais dark. É por isso que eu me pergunto se por acaso não seria importante, quando eu for grande, sair de máscara preta também?
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