Haja água
Eu me considero um ser meio anfíbio. Desde pequeno sempre gostei de água e durante muito tempo meus esportes favoritos foram diretamente ligados a ela.
Não sei explicar, mas Freud com certeza sabe – a água para mim tem alguma coisa de mágico, de eterno, de união entre o começo e o fim das coisas, como se através dela corresse a energia cósmica que movimenta o universo e fosse possível renascer numa única vida os milhões de vidas que perpetuam a vida.
Água é encantamento, partida e chegada, sempre outra na nascente e na foz, e vice-versa, batendo ritmicamente cada momento, sempre outro, sempre outro.
É nela que cresce a vida, é dela que cresce a vida, é ela que faz brotar a vida, no grão germinado explodindo da terra, no pó que volta ao pó e que as enxurradas arrastam para fecundar outra terra e fazer brotar de novo, em outro lugar, o eterno mistério da vida.
Gota a gota, em ondas que crescem e estouram nas pedras, em pingos que caem na chuva criadeira, nos bagos das tempestades, na lágrima que escorre o medo atávico da presa que fugia para o fundo do mar para escapar dos predadores.
A água é o símbolo completo do indizível do universo, do espanto da vida, da expectativa do amanhã de cada espécie.
Água é poesia, história e romance. Ciclo que dá vida a todos os outros ciclos, liquidamente.
Mas que de vez em quando ela abusa, abusa. Por exemplo, neste verão, em São Paulo, bem que podia começar a chover menos.
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