O calor e o calor
Existem diferentes tipos de calor. Uns mais quentes, outros menos quentes, numa escala ascendente, que começa numa pedra aquecida pelo sol das sete horas da manhã e termina nos círculos do inferno, na fornalha eterna onde as almas dos pecadores queimarão pelo menos até o dia do juízo.
No dia do juízo, a misericórdia divina fará a remissão dos pecados e todos, absolutamente todos, inclusive Lúcifer, o Anjo Caído, reencontrarão seu estado de pureza e, remidos, contemplarão a grandeza de Deus.
Até lá, os ciclos do inferno continuarão ardentes como os olhos de Esperança diante do espelho do céu. Até lá, pecadores queimarão no inferno os pecados que mancham suas almas. Até lá, o purgatório será um lugar menos cruel, mas duro o suficiente para purgar as culpas dos que para lá vão.
E o calor seguirá absurdamente alto, no ritmo das mudanças climáticas que trazem para o Brasil o melhor da experiência abissínia. A canícula é dura e incansável. Os olhos não suportam ficar abertos, o corpo treme, a pele sua e o cansaço toma conta do espírito, porque a matéria, esta já foi faz tempo.
Está quente, infernalmente quente, abissiniamente quente, absurdamente quente. E nós estamos em São Paulo. Imagine quem está em Cuiabá, Marabá ou outra quebrada como qualquer cidade do Noroeste Paulista, ou Ribeirão Preto, ou Uberaba.
Faz calor de cachorro sair pulando do asfalto da rua. Calor de derreter sorvete dentro do freezer. Calor de deixar cansado só de pensar no calor fora do ar-condicionado.
Há de ter quem goste. Um tuaregue, um faquir, um escafandrista debaixo d’água. Para o comum dos mortais não dá. E não tem o que fazer.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.