Mais um pouco sobre um tema recorrente
Desde menino, as feiras livres sempre exerceram forte fascínio sobre a minha imaginação. Ou melhor sobre os meus sentidos que fazem viajar minha imaginação.
As feiras livres são, apesar de não serem mais, o último elo ligando o homem urbano à terra, ao solo que produz os alimentos nelas comercializados.
Ver as verduras arrumadas sobre os tabuleiros tem alguma coisa de mágico, alguma coisa de lembrança antiga, atavicamente entranhada na carne e no espírito.
Elas falam de uma vida mais simples, sem tantas indagações, onde o reinado do sol é incontestável e os ciclos se sucedem, estação após estação.
As feiras livres mantém vivo um tempo antigo que fora delas não teria mais espaço para existir.
Como imaginar poesia num saco fechado a vácuo com uma salada linda dentro, numa gôndola de super mercado?
Não, a poesia é parte das feiras livres que há mais de cem anos abastecem São Paulo. Ela vive nas barracas dos feirantes que saem de casa ainda escuro para entregar aos clientes comida boa, mas nem sempre barata.
Ela vive nos pastéis de feira que são imbatíveis, mesmo quando comparados com os pastéis das antigas pastelarias do centro velho.
A poesia é parte deste cenário que se arma junto com a chegada do dia e que logo depois do meio dia desaparece, para surgir no dia seguinte em outro ponto, seguindo sempre o mesmo ritual.
O ritual que nasceu com as “feiras de Pilatos”, as primeira feiras da cidade , e que se perpetuou a partir da segunda década do século, quando depois de 1.914, as feira livres se tornaram parte da rotina paulistana.
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