Uma nova mania
A fábrica de criar loucos que é o trânsito de São Paulo acaba de inventar uma nova mania, que, pelo jeito, deve ser das coisas mais divertidas que existem.
A rapidez com que ela vai tomando as ruas é espantosa, parecendo até fogo em capim seco, no final do outono.
Não há dia que não seja possível ver dois ou três de seus adeptos praticando-a, normalmente com resultados muito ruins para o tráfego como um todo, mas dando-lhes, pela tranquilidade demonstrada, enorme prazer.
A adesão ao grito da moda é verificada pelo número de pessoas que adotam a nova mania.
Neste caso a adesão foi estrondosa, tanto que, dificilmente encontra-se rua, a qualquer hora do dia ou da noite, de preferência de mão única, que não tenha, vindo ao contrário alguém de marcha ré.
Pode parecer loucura, ou algo para se fazer com carrocinhas de bode, mas nunca com um automóvel.
O descabimento desta frase, que seria dita por qualquer pessoa de bom senso vendo o absurdo, mostra apenas que existem diferentes conceitos de bom senso, e que o que é bom senso para uma parcela enorme da população mundial não é bom senso para uma parcela significativa dos motoristas que dirigem por São Paulo.
Não tem cabimento alguém engatar marcha ré, ligar o pisca alerta e vir firme, em direção contrária, atrapalhando todo o trânsito de uma rua.
E no entanto a cada dia que passa esta cena torna-se mais comum, com os motoristas que vem de ré dando-se ao luxo até de ficarem bravos quando alguém, na mão certa, impede-os de prosseguirem.
Como as ruas paulistanas são muito mais violentas do que o velho oeste, e além disto eu não sou Bat Masterson, minha tática tem sido desviar e até parar, para deixar os energúmenos passarem, majestosos, de marcha ré.
Afinal, o que são cinco minutos diante da possibilidade de se levar um tiro?
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